sábado, 14 de outubro de 2006

Live`n Louder - 14/10/06

(Trabalho para o Portal do Inferno)

Live`n Louder, o maior festival de Rock/Metal do Brasil, mais de 15 horas de música transitando por entre diversas vertentes do estilo em perfeita harmonia, firmando cada vez mais seu nome no cenário de shows do Brasil, deixando o público ansioso pela próxima edição.
O evento começou de uma forma lamentável, com o cancelamento de um dos headliners do evento, os ingleses do Saxon. Isso gerou uma expectativa entre o público, pois foi divulgado que para o lugar vago haveria uma atração surpresa.

Os primeiros a subir ao palco foram os “Deuses do Metal”, Massacration. Verdade seja dita: a banda pode ter surgido até mesmo como uma forma de “detonar” o público headbanger, mas acabou virando mania entre a galera adolescente, e queira ou não eles sabem fazer o show. Tocam bem seus temas simples, mas que funcionam, e agitam o tempo todo. Com sua característica caricata, mas agitam! O vocalista Detonator é um show a parte. E, num set de apenas vinte minutos, tocaram todos os seus “hinos clássicos”, como Metal Cereal, Metal Massacre e Metal Bucetation. Conseguiram cumprir seu papel, esquentar o público que chegava ao Anhembi.

Na seqüência veio ao palco a banda paulista Mind Flow. Show que faz parte da turnê de divulgação de seu mais recente álbum, Mind Over Body, onde o que pudemos ver foi um prog Metal de primeiro mundo, muito bem executado, com peso na medida certa. Abrindo o show com a bela Crossing Enemy´s Line, o destaque do show pode ser dado ao vocalista Danilo, que na contra-mão da maioria das bandas do estilo, sabe como segurar o público, agitando bastante e preenchendo todo o palco. O público acabou reagindo muito bem a banda, fato comprovado na banca de merchandising após o show.
Abrindo a parte internacional dos shows, o Hard Rock suíço do Gotthard. Apesar de não muito divulgado aqui no Brasil, pude perceber que havia um público deles presentes ao local, pois vi várias camisetas da banda. Sem contar que a reação do público geral ao show foi maravilhosa, muita agitação a gritaria o tempo todo. Impossível não olhar para seu vocalista e não lembrar de David Coverdale, até mesmo pelo talento ao cantar. Divulgando seu último trabalho, Lipservice, o Gotthard soube manter seu show no alto o tempo todo, inclusive mandando um cover de Deep Purple, Hush. Uma grata surpresa do evento.

Após uma aula de Hard Rock é hora do Power Metal dos alemães do Primal Fear. Com um grande público presente, o Primal fez o que pode entre os inúmeros problemas no microfone de Ralf, que por pouco não chegaram a comprometer o desenrolar do show. Um vocalista do porte de Sheepers merecia mais que isso. Destilando músicas como Nuclear Fire, Angel in Black, Seven Seals, e contando com participações especiais do porte de Roy Z e Renato Tribuzy, que executaram juntos Final Embrance. E, se todos os problemas de microfone não fossem suficientes, a exemplo do que aconteceu com o Tuatha de Danan ano passado, a organização simplesmente cortou o som da banda antes do término de sua apresentação. Visivelmente constrangido, para não dizer decepcionado, Sheepers foi ao microfone para dizer que o show havia acabado devido a “problemas técnicos”. A organização do LnL deveria ter um pouco mais de respeito com suas atrações. Lamentável.

Na seqüência, os holandeses do After Forever. E, apesar de seu set extremamente curto, e em minha opinião outra falha da organização, pois o público da banda estava em massa ali presente, dividindo com o Nevermore (que viria mais tarde) a quantidade máxima de camisetas que por ali desfilavam. A banda merecia um tempo maior de palco, e seus fãs também. Felizmente, souberam montar um set list praticamente perfeito dentro desse pouco tempo. Abrindo com Come e Boundaries are Open, de seu mais recente álbum Remagine, o After mostrou mais uma vez que é uma das grandes bandas no cenário atual. Floor Jansen, apesar de todos os problemas que também enfrentou com o microfone, simplesmente arregaça no palco, é uma vocalista diferenciada não somente pelo extremo talento, mas também por sua simpatia e presença única de palco. Como um grande presente aos fãs, é executada a música Emphasis, hino da banda que faltou na apresentação do ano passado. Tocando músicas de todos os seus álbuns, como Digital Deceit, Monolith of Doubt, My Pledge of Allegiance 1 e Follow in the Cry, e também do mais recente, como Living Shields, Being Everyone e Face your Demons, com Floor inclusive colocando uns chifrinhos vermelhos na cabeça. Mas o melhor a banda reservou para o final, Forlorn Hope, faixa final de Decipher, onde ficou nítido que esse é o álbum mais querido entre os fãs. Impressionante a reação do público, impressionante a performance da banda e também seu carisma. O primeiro grande show do dia.

Mantendo o pique de vocais femininos, a lenda alemã Doro. Pela primeira vez no Brasil, saciando seus fãs de longa data, Doro mostrou prq elevou seu nome a estratosfera dentro do Hard Metal. Com seu timbre rouco, e uma agressividade perfeita, Doro levou o público ao delírio, num show impecável e uma presença de palco única. Visivelmente emocionada com a receptividade dos fãs, que agitaram e cantaram todas as músicas do começo ao fim. Nem era preciso o cover de Breaking the Law, do Judas Priest. Mas, como todo bom hino, levantou a galera em peso! E, apenas para manter a tônica do dia, seu microfone também apresentou problemas, que dessa vez vieram acompanhados até de uma narração de um jogo de futebol! Coisas de Brasil... No set list, clássicos como: Burnig the Witches, Metal Racer, True Steel, Hell Bound. Uma apresentação para deixar aquele gostinho de quero mais (e rápido!) nos fãs.

O início da noite trouxe ao palco os americanos do Nevermore. E que, segundo eles, trouxeram a chuva de Seatlle para cá, pois assim que pisaram no palco iniciou-se uma breve chuva. E, totalmente ao contrário do que a idéia de uma chuva pode provocar, o que se seguiu foi um incêndio no Anhembi. Warrel Dane e cia simplesmente fizeram tremer as bases do Arena Skol com seu progthrash de peso e velocidade perfeitos para fazer o público reagir de forma insana. Final Product, Narcosynthesis, Inside Four Walls e outros petardos trouxeram ao público o segundo grande show do festival, encerrado com a gigante This Godless Endeavour. Dane parecia estar contrariado com algo, não se mostrava solto como no show de cinco anos atrás. Mas, devido a tudo o que já havíamos presenciado com as outras bandas, não é de se estranhar que ele pudesse realmente estar assim. É verdade também que Dane perdeu a mãe dias antes do show. O que vale uma nota de agradecimento, pois nem isso foi capaz de faze-los cancelar não só esse show, como também o de Curitiba. Mas a verdade é que, estando contrariado com algo ou não, ele simplesmente fez o que quis com o público, com uma presença de palco perfeita, agitando sem parar. Engraçado que ele permanecia com um boné na cabeça, e o tirava sempre que não estava cantando para “bater cabeça”. E, nota a parte, Van Willians foi certamente o melhor baterista da noite. Absurdo o que esse cara toca! Preciso, rápido, pesado. Um grande show, digno de uma grande banda!
Como todas as estruturas haviam sido abaladas pelo Nevermore, o que se seguiu foi a manutenção disso. Pois o Sepultura fez um show simplesmente perfeito! Muito diferente de suas últimas apresentações, onde ficava claro que a banda já não possuía mais a coesão de outros tempos. Agora, com um novo baterista, pode-se perceber que provavelmente o culpado por essa falta de entrosamento fosse Igor, que vinha tocando as músicas de forma muito mais rápida do que ficaria aceitável no palco. E Jean DelaBela correspondeu as expectativas gerais, pois segurou de forma precisa, tanto em execução como na velocidade todo o show. Isso fez com que a banda inteira se sentisse a vontade no palco, realizando assim um show avassalador. Andréas, em determinado momento, dirigiu-se ao microfone para dizer que “o Tricolor era cada vez mais líder isolado” (referindo-se ao São Paulo no campeonato brasileiro). Isso gerou aquela reação básica de quando se fala de um assunto polêmico: muitos gritaram, outros vaiaram, alguns até xingaram. Mas bastou Andréas voltar para a música para todos ali esquecerem o assunto futebol. Músicas de todas as fases, como Refuse / Resist, Choke, Troops of Doom, Beneath the Remains, Slave new World, Territory, Arise, não permitiram que o público parasse um só momento. Também músicas novas, de seu último trabalho, Dante XII: Dark Wood of Error, Convicted in Life e False. Roots Bloody Roots encerrou o ataque. Grande show, mostrando que o Sepultura ainda vive sem os irmãos Cavalera.
Eis que chega o momento da “atração surpresa”, que de surpresa não tinha nada, já que o comentário geral apontava para uma apresentação de André Mattos. Sim, André Mattos. E, sinceramente, essa foi a atitude mais dispensável que a organização poderia ter tido, já que era nítido para quem quisesse ver e ouvir que essa escolha não agradou ao público. O show foi muito fraco, o som estava ruim, e talvez isso não fosse culpa da organização, dessa vez. Se é que vocês me entendem... No palco, o que se via era praticamente o Shaaman, com os irmãos Mariutti, acompanhados de André Hernandez na segunda guitarra, Rafael Rosa na bateria (que fez um solo sofrível, num kit monstro onde não foi usada metade das peças) e Fábio Ribeiro nos teclados. O que se pôde ouvir, além dos coros da galera de “Fora”, viadinho” e “FDP”, foram músicas tanto do Shamaan, como Angra e Viper. O show foi encerrado com a já saturada Carry on. Totalmente dispensável.

Para abrir a fase headliner do festival, os finlandeses do Stratovarius. Depois de toda a turbulência que assolou a banda à alguns anos atrás, com a saída de praticamente toda a banda, o anúncio da famigerada Miss K. nos vocais, fato que nunca se concretizou, Timo Tolkki tendo surto atrás de surto mental e a então reunião, o Stratovarius perdeu muito do que tinha. No palco, o único que fazia questão de alguma agitação era o novo baixista Lary Porra, que diga-se é um grande instrumentista, não devendo nada para seu antecessor. Kotipelto continua com aquela presença quase nula de palco, enquanto Tolkki está parecendo uma tiazona velha, muito gordo, de cabelos curtos e estático no palco. Arrisco a dizer que o Stratovarius hoje só empolga aqueles que são realmente fãs da banda. Por que, apesar de fazer um show recheado de clássicos, fez um show chato. Hunting High and Low, Speed of Light, Kiss of Judas, Phoenix, Abyss of your Eyes (que foi anunciada errôneamente por Kotipelto), Will my Soul Ever Rest in Peace, Million Light Years Away, Against the Wind, Eagle Heart, Father Time, Forever, Paradise e para finalizar, Black Diamond. Para os fãs, um grande show. Para os não fãs, mais de uma hora de espera insossa pela atração principal.

E eis que, depois de uma demora absurda, de todos os testes de microfone possíveis realizados, e uma introdução surge no palco a lenda Dave Lee Roth. E, definitivamente, o tempo não passa para certas pessoas. E Dave é uma dessas. Pois sua postura de palco jamais entrega que ele está no alto de seus 52 anos. Muito garotão de vinte e poucos não faz metade do que Lee Roth faz. E, diga-se, conversando com o público num português praticamente fluente! Uma surpresa para a massa que ali estava, e uma surpresa muito agradável. Isso me faz pensar o por que de Derek Green, à anos e anos no Sepultura, ainda não ter aprendido a falar nosso idioma... mas enfim, falemos da lenda! Com uma ótima banda de apoio, destilando clássicos de sua grande estrada e, obviamente, clássicos do Van Halen. Dave limpou o palco, deixou todo o espaço possível para que pudesse ser aquilo que o consagrou na carreira: um show man acima de um grande front man. Sem parar um só minuto, fez uma performance baseada em movimentos de Kung Fu, do qual é praticante. Só faltaram aqueles pulos insanos dos tempos de Van Halen, mas acredito ninguém ter sentido falta disso, tamanho o carisma que Dave apresenta. Um daqueles típicos shows que quem não conhece ou não gosta do artista é obrigado a reconhecer o talento. E quem gosta não deseja que acabe! Os pontos altos foram os clássicos do Van Halen, da abertura com Hot for Teacher, passando por Panama, Ain´t talk about love, Dance the night away, Unchained e por fim, Jump. Um show memorável. O encerramento perfeito de um evento que não foi digno da grandeza de suas atrações. Muito menos do público que pagou a fábula de R$120,00 por um ingresso de pista e R$200,00 por um de área VIP. Que, ano que vem, a organização possa no mínimo descobrir o significado daquilo para o que são contratados: organizar. E que o público e as bandas recebam o respeito que merecem.

sábado, 23 de setembro de 2006

Setembro Negro - Led Slay - 23/09/06

(Trabalho para o Portal do Inferno)



No último sábado, dia 23/09, aconteceu a quinta edição do Setembro Negro, festival que tem por ideologia proporcionar ao público o melhor do Black Metal mundial. A edição desse ano contou com seis bandas nacionais, mostrando que a força do Metal Extremo nacional aumenta cada vez mais. Infelizmente para as nossas bandas, o tempo reservado a eles foi extremamente curto, e todas mal puderam apresentar cinco músicas, dependendo da duração de cada uma. Em uma visão pessoal, devido a qualidade que pude perceber nas bandas assistidas, que posso garantir foi muito alta, nossas bandas mereciam um pouco mais de atenção. Talves diminuir a quantidade de bandas para uma próxima edição do evento, talves estender sua duração, para que cada banda tenha um pouco mais de espaço para mostrar seu trabalho. Esse ano, as escolhidas para representar o país foram: Gestos Grosseiros, Thou Supreme Art, Perpetual Dusk, Vulture, Absolute Disgrace. Poderia citar como destaque as apresentações das bandas Perpetual Dusk e Vulture, pois apresentaram composições realmente de muita qualidade e técnica. A organização para a troca das bandas no palco foi impecável, dando boa dinâmica ao evento. Mas como todas as atenções estavam voltadas as bandas internacionais, o público apenas se aglomerou realmente nas últimas três apresentações: Funerus, Incantation, e a apresentação mais esperada da noite, Dark Funeral.

A banda Funerus apresentou uma surpresa: dois integrantes do Incantation, John Mcentee e Kyle Severn (guitars e bateria, respectivamente). Formando o line up, Jill Mcentee (baixo e voz), que é esposa de John. E o que a banda apresentou foi um Death Metal das antigas, com uma grande influência Doom em determinadas passagens, deixando seu som arrastadão e muito pesado. Em mais ou menos quarenta minutos de palco a banda segurou o público com facilidade, principalmente no momento em que Jill bradou a todo pulmão que quem estava ali não era o Nightwish! O vocal de Jill é muito interessante, gutural mas com personalidade feminina. Uma ótima banda e um bom show.

Na seqüência, Incantation. Divulgando seu mais recente trabalho, Primordial Desolation, a banda destilou por quase uma hora seu set list com novas canções inéditas e seus clássicos. O baixista Joe roubou a cena em muitos momentos, com uma presença de palco até surpreendente para bandas do gênero. O cara simplesmente preenchia todo o espaço frontal do palco, em um deslocamento e agitação constantes. Junto ao peso e velocidade nas medidas certas, o Incantation, que levou boa parte do público ali presente, pois pude ver muitas camisetas deles desfilando pela pista, soube fazer um excelente show, certamente agradando a todos que ali estavam, assim como eu. No set list, músicas como Primordial Domination, Dying Divinity, Hail Babylon,The Ibex Moon, Shadows From the Ancient Empire, Rotting With Your Christ, entre outras.

Para fechar a noite, os suecos do Dark Funeral. E já subiram ao palco com o público ensandecido, gritando o nome da banda com aquele velho e bom sotaque tupiniquim... palco montado, introdução terminada, entra a banda para arregaçar tudo o que havia em sua frente. Com um som brutal, rápido e preciso, o Dark Funeral executou em pouco mais de uma hora, contando com o bis, um set list devastador. A banda não possui, ou ao menos não demonstrou nessa noite, presença de palco alguma. Todos permaneceram em seus respectivos lugares durante todo o show. Mas uma coisa que me chamou a atenção foi que o vocalista Emperor Magus Caligula não possui aquela atitude que para mim chega a ser babaca de falar com o público com aquele tom gutural e pose de “mausão”. Falou com seu tom de voz normal, com uma postura normal, o que deu um tom diferenciado a seu show. O detalhe é que quando abria a boca ao microfone, o que se ouvia era um dos vocais mais ensandecidos que já presenciei ao vivo. Devastador! No set list, petardos como King Antichrist, The Arrival of Satans Empire, Open the Gates, The Secret of the Black Arts, 666 Voices Inside, Mt Dark Desires, entre outras que fizeram a Led Slay tremer.
Certamente um grande festival, onde a única ressalva que eu faço é o espaço para as bandas nacionais.

sexta-feira, 9 de junho de 2006

Paradise Lost - Status Shows (Sto. André) - 09/06/06

(Trabalho para o Portal do Inferno)



Foram praticamente onze anos de espera. Onze longos anos de espera, diria. Desde sua única apresentação no Brasil, no extinto Monsters of Rock, em 1995, durante a turnê de seu indiscutivelmente melhor álbum, Draconian Times. É verdade que o Paradise Lost perdeu bastante terreno entre os fãs aqui no Brasil. Muito devido a péssima divulgação e distribuição que passaram a ter por aqui, mas também devido a sua razoável mudança de direcionamento musical. Mas também é verdade que, por menor que possa ser esse público (que não chegava a duas mil pessoas), ele é muito fiel. E estava sedento por uma aportagem da banda em nossa terra. Digo isso, pois sou fã incondicional da banda, e sei o quão cansativo foi esperar por todos esses anos.
A primeira coisa que saltou aos olhos de todos que esperavam por esse show foi a escolha da banda de abertura: Krisiun. Tudo bem, o Krisiun provavelmente hoje é a banda brasileira mais forte no mundo, são uma puta banda, mas convenhamos que não há nada em comum entre o som das duas. E o que ouvi de praticamente todos, antes e no dia do show, é que o Krisiun poderia ficar de fora desse momento. Principalmente por que isso acabou fazendo a noite se estender por demais, o que acabou deixando muita gente na rua.

O show foi realizado na casa Status Show, em Santo André, outro ponto de discórdia entre todos que ali estavam. Poucos entendiam o por que da escolha de um local tão “fora do mapa”. E havia uma certa preocupação sim em torno do horário do término desse evento, e a respectiva volta para casa. O show acabou por volta de 0h40, o que acabou deixando, realmente, muita gente na rua. A casa é boa, tem um espaço e um palco muito bons para esse tipo de evento. Mas como é de praxe em shows em nosso país, o som estava muito mal arrumado. Escutava-se de forma diferente as músicas dependendo do local onde se ficava. Nas laterais podia se ouvir praticamente tudo, mas com a visão um pouco prejudicada. Na frente ouvia-se parcialmente. E na frente do palco, na grade, quase não havia vocal. O show começou com atraso também, segundo as informações que tínhamos. Assim como também houve uma certa confusão em relação a distribuição e utilização das credenciais. Mas, definitivamente, nada que tirasse o sono de qualquer fã do Paradise que ali estivesse.

Com quarenta e cinco minutos de atraso, segundo o que eu havia sido informado que o show começaria, o Krisiun subiu ao palco. E o que se viu por cinqüenta minutos foi o que todos já conhecemos em se tratando de Krisiun: destruição total. Músicas extremamente rápidas e técnicas preenchendo todo o set. A banda estava fazendo o lançamento do CD e DVD ao vivo Live Armaggedom, e aproveitaram para apresentar material novo. Como também é de praxe nos shows da banda, a integração com o público continua a mesma. Em determinado momento, Alex aponta para alguém na platéia e pergunta o que ele gostaria de ouvir, e seu pedido foi prontamente atendido, com direito a Alex batendo cabeça junto do “escolhido”. Pude conversar bastante com o garoto depois do show, e ele estava simplesmente enlouquecido com isso tudo. Esse talvés seja um dos diferenciais da banda: a forma com que tratam o público, e sua atitude diante de todos. Humildade acima de tudo. Foi com certeza um grande show, menos cansativo que o último que havia visto, ano passado. Mas definitivamente poderiam ter escolhido uma banda mais apropriada para a noite.

E eis que, por volta de 23h15, enfim, o Paradise Lost aparece no palco. E devo confessar: foi uma emoção muito forte, com certeza sentida por muitos ali. Poder conferir novamente no caso de alguns, e pela primeira vez no caso da maioria pelo o que pude perceber em conversas esporádicas, Nick Holmes, Steve Edmondson, Aaron Aedi, Gregor Mackintosh e o novo baterista, Jeff Singer. Outro fato interessante que consegui colher nas conversas foi que a grande maioria esperava músicas na fase até o Draconian Times, principalmente desse e do Icon (que por sinal são meus preferidos). E o que se viu a partir daquele momento foi o melhor que o Gothic/Doom Metal pode oferecer. As seis primeiras músicas foram da que podemos chamar “fase atual”. Abrindo com Don´t Belong, cantada em uníssono por todos. Erased e Mystify também causaram grande agitação no público. Mas nada comparado ao momento em que Nick anuncia a primeira da “fase boa”: Embers Fire, clássico que abre o álbum Icon. A galera da grade, onde eu me encontrava, simplesmente foi ao delírio com isso. E, se não bastasse, na seqüência mandaram Hallowed Land. E aí pudemos sentir a força do álbum Draconian Times, pois a situação realmente apertou ali na frente, sinal de que o público reagiu muito bem a música. Também cantada em uníssono, arrancou lágrimas de alguns. Mais três músicas e chegava o que seria o melhor momento do show: As I die, seguida pela maravilhosa Enchantment, e o hino True Belief. Durante a execução dessa o público estava respondendo de forma tão ensandecida que Nick deixou o microfone e permitiu que o público cantasse uma parte da letra. Confesso que dessa vez as lágrimas que saíram foram de meus olhos... Na seqüência, One Second e eles saem do palco. A essa altura eu já não estava mais agüentando o aperto e o calor ali da frente, e me retirei para assistir o bis de um lugar mais tranqüilo. Em alguns poucos minutos, após um de seus técnicos ter afinado novamente as guitarras, a banda retorna executando Forever After. Over the Madness na sequência e, infelizmente, Nick anuncia Last Time, e com isso o fim do show. O sonho estava realizado. Tínhamos enfim assistido um show do Paradise Lost. É verdade que Nick já não tem mais aquela pegada na voz que caracterizou uma fase. Hoje, seu vocal é muito mais limpo, o que deixa até um pouco estranho certas passagens das músicas antigas. A banda não possui uma grande presença de palco, mas o que fazem é o necessário para uma combinação perfeita com as músicas. Greg não é um solista virtuoso, mas cativa com os mesmos e sua presença de palco. Preciso fazer um destaque para os guitarristas Greg e principalmente Aaron, que possuem um carisma enorme. Tive oportunidade de conversar com ambos na noite de autógrafos, na quinta feira, e me surpreendi com a amabilidade de Aaron e seu carisma. O som também atrapalhou um pouco, como já citado acima. Mas era nítido o sentimento de “alma lavada” de todos que ali estavam. Era nítido a expressão de êxtase no rosto de quem começava a se retirar. E com certeza, eu fazia parte desse grupo!


SET LIST:
Don´t Belong
Grey
Erased
Redshift
Mystify
So much is lost
Embers Fire
Hallowed Land
Sweetness
No Celebration
All you Leave Behind
As I Die
Enchantment
True Belief
One Second
BIS
Forever After
Over the Madness
Last Time

sábado, 25 de março de 2006

Extreme Metal Fest – Led Slay - 25-03-06

(Trabalho para o Portal do Inferno)



Tinha tudo para ser um tremendo tiro n´água. Um festival grande, com oito bandas, na Led Slay. Péssima divulgação. Sábado chuvoso e no mesmo dia do show do Helloween. E não venha dizer que são públicos diferentes, pois ouvi muitos comentários dias antes dos shows de pessoas que tiveram que escolher em qual ir. E na verdade, o evento beirou o catastrófico até quase sua metade, pois as três primeiras bandas tocaram para ninguém. Quando a primeira banda subiu ao palco, além de mim e minha namorada, haviam mais quatro pessoas na casa. E esse foi o público deles durante todo o show. É verdade que quando o Candlemass, a grande atração do evento, subiu ao palco, a casa estava tomada. Mas tenho certeza que se tivesse acontecido uma divulgação que o porte do evento merecia, esse público poderia ter sido muito maior. Vale a pena dizer também que a organização durante o evento foi impecável. Todas as bandas, com exceção das internacionais, tiveram exatos vinte minutos de palco, e mais vinte de intervalo entre uma e outra para montagem de palco. Ninguém foi favorecido. Na verdade, acredito que as bandas nacionais mereciam um pouco mais de atenção, tiveram pouquíssimo tempo para se apresentar. A informação que corria nos bastidores é que o Candlemass tinha horário marcado para pegar o avião, o que fez com que o festival terminasse muito cedo, antes mesmo das três horas da manhã. Isso fez com que a casa permanecesse aberta, rolando som mecânico até as cinco horas.

Os primeiros a subir ao palco foram o Diabolical Possession, banda do Vale do Parnaíba. Infelizmente, não é possível dizer muito sobre a apresentação, pois o som estava completamente desarrumado, não se ouvia absolutamente nada além da bateria e de um pouco do vocal. E, para não cometer alguma injustiça, isso é tudo o que se pode dizer.

Na seqüência veio o Gammoth, da cidade de Leme. Nesse momento o som já estava um pouco melhor, e já era possível distinguir alguma melodia. A verdade é que o Gammoth dispensa comentários. Vem galgando seu espaço no cenário Death brasileiro a passos largos. Assim como a uma semana atrás em Ribeirão Preto, no Metal Rebellium, a banda executou dentro das limitações técnicas do local um bom show, dessa vez contando com a presença de seu guitarrista oficial Thales, que não esteve presente no evento citado.

A terceira banda foi o Bywar. Thrash Metal oitentista de primeira, com tudo o que o estilo pede: muita energia no palco e velocidade nas músicas. Realizaram um show correto, que soube levantar o público que a esse momento já contava com umas duas dezenas de pessoas a frente do palco. E som também começava a tomar ares de ser arrumado.

Com o som finalmente ajustado ao nível de se destinguir todos os instrumentos e a casa ganhando ares de evento realmente com a chegada de mais pessoas, subiu ao palco o Clinched Fist. A proposta da banda é resgatar o Heavy Metal raiz dos anos oitenta. E devo dizer que conseguem isso. Fazem um som direto, sincero, sem muitas firulas. A banda possui todo o visual da cena que se propõe. Mas infelizmente também resgatam toda a pataquada dos clichês a exaustão nas letras e nomes das músicas. Destaque para o vocalista, que realmente canta muito bem.

A quinta banda foi o Ophiolatry, oriundos de Pindamonhangaba, e trouxe a maior curiosidade do evento: Metal extremo tocado com bateria eletrônica! Como baterista, devo confessar que isso foi no mínimo inusitado. É interessante por um lado, pois se torna totalmente possível visualizar todo o trabalho, principalmente de pernas, do baterista. Mas também tenho que dizer que isso não trouxe um bom resultado final para o som da banda. Pois, por mais rápido e preciso que seja o baterista, o som eletrônico é muito frio e sem vida, sem peso. E realmente não foi uma combinação muito boa com o som extremamente agressivo e pesado que a banda produz em seu Brutal Death Metal. Exemplo disso é que o próprio público não aceitou muito bem isso, criticando e xingando sempre que uma brecha para isso surgia. E isso se intensificou após uma espécie de solo que foi feito, onde o guitarrista ficou trocando os efeitos do módulo da bateria. Realmente desnecessário e de muito mau gosto.

Para fechar a fase de abertura do festival, com as bandas nacionais, o Ungodly. Sem sombra de dúvida o melhor show nacional da noite, com muito peso e velocidade na medida certa. Os caras possuem um nível profissional acima da média, sabem se portar no palco, preenchendo com muita propriedade todos os espaços. Conseguiram cativar todo o público que estava na casa, sendo ovacionados como qualquer outra banda grande, assim como eles também já o são.

O Averse Sefira subiu ao palco e para minha surpresa trouxe consigo um som muito estourado e por vezes até incompreensível. Por ser a primeira banda internacional da noite, imaginei que seu som estaria melhor equilibrado do que todos que haviam tocado até então. Mas infelizmente, para todos os fãs que ali estavam, da própria banda ou do Metal extremo, o som ficou muito ruim em sua apresentação. A trio texano realizou em quarenta minutos um grande show, praticamente sem intervalo entre uma música e outra, mostrando o por que de ser hoje um dos grandes dentro do Black Metal. O que vale ressaltar na passagem deles por aqui é o respeito pelos fãs. Tanto antes quanto após o show foi possível ver os caras andando normalmente por entre o público. A banda sempre demonstrou seu respeito pelos fãs brasileiros, inclusive tendo a opção de língua portuguesa em seu site oficial. E mostraram que isso não é apenas imagem com essa atitude.

Pouco mais de vinte minutos após, com todas as devidas cruzes colocadas no palco, o show do Candlemass estava pronto para começar. O público já estava em polvorosa, entoando coros com o nome da banda. O local nesse momento já estava todo tomado, mostrando que o Candlemass realmente possui um grande, fiel e ensandecido público aqui no Brasil. Luzes apagadas, introdução mecânica rolando e o público se amontoando a frente do palco. A introdução termina, nada acontece e as luzes voltam a se acender, deixando a todos sem entender nada. Mais quase dez minutos nessa espera, ritual repetido, apagan-se as luzes, soltam a introdução, mas dessa vez os membros começam a ocupar o palco. E enfim o tão esperado show do Candlemass começava. E por exatos duas horas o que se pôde ver foi o melhor que o Doom Metal pode oferecer. Para quem conhece a banda, não é preciso tecer comentários sobre o trabalho dos caras, de uma qualidade ímpar. O que precisa ser dito aqui é que o “mestre” Messiah é simplesmente fantástico no palco! Um dos maiores frontman que já pude ver. Ele não para um só instante, anda de um lado para o outro, fala o tempo todo com o público, faz suas dancinhas enlouquecidas que cativam e prendem o público com muita facilidade. E outra coisa que vale ser dita: nunca vi alguém agradecer tanto ao público como ele. Durante todo o tempo do show, após e por vezes até durante todas as músicas Messiah “venerou” o público paulista e, como já se tornou lei entre todas as bandas que aportam por aqui pela primeira vez ou após muitos anos, prometeram voltar o mais breve possível. O show teve dois bis, cada um com duas músicas, e sempre toneladas de agradecimentos. Um show memorável, até mesmo para quem não é grande fã da banda.

SET LIST:
Gothic Stone
The Wells of Soul
Bewitched
Black Dwarf
At the Gallows End
Under the Oak
Mirror Mirror
Copernicus
Demon's Gate
The Day and the Night
Through the Infinitive Halls of Death

BIS1:
Samarithan
Solitude

BIS2:
Crystal Ball
A Sorcerer's Pledge



Sites oficiais:

CANDLEMASS: www.candlemass.com
AVERSE SEFIRA: www.aversesefira.com
UNGODLY: www.ungodly.com.br
OPHIOLATRY: www.ophiolatry.org
CLENCHED FIST: www.clenchedfist.tk
BYWAR: www.bywarthrashers.com/
GAMMOTH: www.gammoth.cjb.net
DIABOLICAL POSSESSION: www.diabolicalpossession.cjb.net

sábado, 18 de março de 2006

Metal Rebellium – Ribeirão Preto – 18/03/06

(Trabalho para o Portal do Inferno)


44ª edição desse que já se tornou um dos maiores eventos de Metal do interior de São Paulo. Essa edição comemorou o aniversário de seis anos do festival, e contou em seu cast com três bandas de Santa Catarina, que atravessaram mais de quinze horas de ônibus para se apresentar no evento. Mais uma da capital e duas do interior. O local não chegou a lotar, acredito que tenha atingido em seu pico por volta de oitocentas pessoas, mas que souberam fazer valer o evento, com muita energia. A organização pecou em alguns fatores, o som não era regulado da mesma forma para todas as bandas. Mas temos que ressaltar que todas as bandas tiveram seu tempo de palco e intervalo entre os shows respeitados. Houve sorteios de DVDs, CDs, piercings e tattoos. O palco contava com um telão posicionado a frente do palco, que exibiu durante todo o tempo imagens de pessoas que acredito tenham sido participantes das outras edições do festival. Uma idéia muito interessante, prestar uma espécie de homenagem a todos aqueles que de alguma forma contribuíram para fortalecer o nome do evento, mas mal aproveitada, pois essas imagens passavam durante as apresentações das bandas. Momento que, convenhamos, as pessoas que lá se encontravam não estavam interessadas em olhar para o telão. Mas em seu contexto geral o evento foi muito bom. Mas vamos as bandas.

A primeira banda a subir ao palco na noite foi o Symmetrya. Com seu Heavy Metal temperado com ingredientes do Melódico e as vezes até com uma pegada mais Hard Rock fez um bom show, correto. Entre seu material próprio, de qualidade, mandaram os covers de Knocking at your back door, do Deep Purple, e encerraram sua apresentação com Can I play with madness, do Maiden. Souberam manter o público aquecido para a próxima banda.

Na seqüência veio o Perpetual Dreams. Mais uma banda com um bom material próprio para mostrar, com um show cativante, músicas bem executadas com um bom nível técnico. E assim como a banda anterior, também mesclou em seu set list dois covers: No more tears, do mestre Ozzy Osbourne, e o clássico Fear of the dark, obviamente cantado em uníssono pelos que ali estavam.

Para fechar a parte catarinense do cast, a banda Before Eden. A banda exibiu suas composições próprias, regadas a um excelente nível técnico e muito peso, lembrando bastante a sonoridade do Dream Theater no álbum Train of thought. Tanto que mandaram o cover de As I am. Foi a banda que mais executou covers, três ao todo, que foram além do já citado: Blinded, do Evergrey, e Pary Mason, mais uma de Ozzy. Acredito eles terem sido a melhor das três bandas excursionistas, e não diria que foram a melhor da noite pois o Gammoth viria a fazer um grande show mais tarde. Mas a impressão que as três deixaram foi a melhor: muito peso, velocidade e técnica na medida certa, e covers muito bem escolhidos. Fizeram valer as quinze horas de ônibus que enfrentaram.

Para abrir a parte paulista do evento, os veteranos do Andralls. Com um show competentíssimo, destilaram seu Trash Metal com muito peso, velocidade e fúria. Não há muito o que falar do som do Andralls, arrasa quarteirão é o adjetivo que melhor combina com a banda. Tocaram em meio ao seu set o cover de Children of the Grave, do Black Sabbath. A curiosidade foi que terminaram sua apresentação, e em alguns minutos estavam de volta ao palco, meio perdidos, é verdade, e tocaram seu último petardo: Angel of Death, do Slayer. A impressão que deu é que a banda ainda tinha alguns minutos de palco, o que os obrigou a voltar e acabaram por decidir na hora como fechariam essa apresentação.

Na seqüência veio o Gammoth, da cidade de Leme. Death Metal de primeiríssima qualidade, rápido e pesado. A verdade é que o Gammoth já está conquistando seu espaço no cenário nacional, e irão se apresentar no Extreme Metal Fest, ao lado do Averse Sefira e Candlemass no próximo dia 25. Mas a qualidade do som da banda deixa nítido o por que dessa crescente visualização dentro do cenário. A banda não contou com o guitarrista oficial, Thales, que foi substituído por Mexicano, da banda Crystal Lake, também de Leme. Mais uma apresentação no estilo arrasa quarteirão, com grandes músicas, Provavelmente a melhor banda da noite.

Para encerrar, foi reservada a honra a banda anfitriã, Demonya. Death Metal executado apenas por garotas, onde o grande destaque é nitidamente a performance da vocalista Vivian Vollkommen. Um monstro no microfone, com um gutural de fazer inveja a muito marmanjo por aí. Infelizmente, a banda enfrentou vários problemas durante sua apresentação. Retorno que sumia, vocal que era “socado” embaixo das guitarras, guitarras essas que por outras vezes simplesmente sumiam. Não sei ao certo o que se passou nesse momento, a verdade é que o público a essa altura já havia diminuído muito, contando com no máximo um terço do momento de pico, que aconteceu entre o shows do Before Eden e Andralls. E a banda se retirou do palco, nitidamente irritada e decepcionada com tudo aquilo.

No geral foi um grande evento. Cansativo para nós, que nos deslocamos quase 500km para cobrir esse evento, mas com certeza deixando uma excelente impressão. Todas as bandas demonstraram um ótimo nível, dignas de estarem representando a cena e brindando juntas nessa festa de comemoração de seis anos de Metal Rebellium.


Sites oficiais:

Symmetrya – www.symmetrya.com
Perpetual Dreams – www.perpetualdreams.net
Before Eden – www.beforeeden.cjb.net
Andralls – www.andralls.com.br
Gammoth – www.gammoth.cjb.net
Demonya – www.demonya.cjb.net

sábado, 18 de fevereiro de 2006

Rolling Stones – Praia de Copacabana (RJ) – 18-02-06

(Trabalho para o Portal do Inferno)



Eu nunca fui fã de Rolling Stones. Nunca delirei com alguma música deles, nem citei alguma entre minhas preferidas. Mas, como não se empolgar com a idéia de ver um show dessa magnitude, ao ar livre, na praia de Copacabana?! Realmente, essa foi uma cartada de mestre da prefeitura do Rio de Janeiro. Como 2007 será ano de Panamericano, e todos sabemos que a imagem do RJ não é a melhor a muito tempo, esse show veio para clarear um pouco essa imagem.

Muitas pessoas deixaram de ir nesse show com medo da violência, com medo de arrastões e coisas do gênero. A verdade é que, em dezenove horas que passei no Rio, não vi um único caso. Uma única desavença. Uma única intervenção policial. Resumindo: quem não foi por esse motivo, perdeu!

O dia estava perfeito, um sábado muito bonito, com um calor tipicamente carioca, ou seja, infernal. Chegamos ao local do show por volta de nove e meia da manhã, o que foi muito bom para ver como foi o aumento do público. Todas as estimativas apontavam para um milhão e meio de pessoas, público que não foi alcançado. Segundo a polícia, o número chegou a um milhão e duzentas mil pessoas. O engraçado é que, até por volta de dezessete horas, a praia estava totalmente tranqüila, diante do evento que aconteceria ali a algumas horas. Era possível transitar entre a avenida e a praia em si com total tranqüilidade. Apenas na área em frente ao palco havia uma grande concentração de pessoas, muitas que já estavam lá a alguns dias. Mas, a partir desse horário, Copacabana virou um formigueiro humano. Pessoas “brotavam” de todos os lugares, aos grupos, e isso fez com que em pouco tempo, aquilo que era um estado tranqüilo se tornou uma “muvuca”. Já não era mais possível transitar com facilidade, toda a área da praia foi tomada rapidamente. No momento do show, por toda a avenida e até mesmo dentro do mar haviam grupos de pessoas. Mas, como já disse, mesmo dentro desse acúmulo enorme de pessoas, não presenciamos um único incidente.

A primeira abertura da noite foi reservada para o grupo carioca Afro Reggae. Além da banda, o grupo possui um trabalho social muito forte e presente nas favelas e periferia do RJ, fato que com certeza foi determinante para estarem ali. Foi uma excelente forma de divulgar para todos os cantos o trabalho do grupo. Em termos de som, o show foi muito fraco. Os instrumentos estavam muito mal ajustados, e a apresentação foi curta. Mas serviu aquilo a que se propôs: divulgar o trabalho social do grupo ao mundo.

Na seqüência veio o Titãs. Colocado de última hora nesse evento, o grupo realizou um show apenas com músicas antigas, de sua fase mais atitude. O problema de sua apresentação é que seu som conseguiu ficar em pior estado até que o show anterior. Não se destinguia nitidamente nenhum dos instrumentos, o som ficou embolado demais durante todo o tempo. E o grupo acabou realizando um show curto, que pouco causou no público, e que provavelmente passou incólume por quem estava lá.

E, pontualmente as 21h45, rendendo-se a grade de programação da Rede Globo, os Stones entravam no palco. Engraçado foi o comentário que ouvi: “meu Deus, até Keith Richards se vende para a Globo!”. Verdades marketeiras a parte, outra verdade é que o show em momento algum “explodiu”. Não teve um só grande momento. Foi um bom show, regular, mas podendo até ser considerado fraco se comparado com shows de outras turnês da banda. Mick Jagger continua com uma energia invejável, agitando e andando por todo o palco durante todo o tempo, até se arriscando em alguns acordes de guitarra. Keith também se arriscou, mas no vocal, em uma de suas canções de trabalho solo. Nesse momento aconteceu um dos pontos altos da apresentação: Keith chega ao microfone e diz “é bom estar tocando aqui... é bom estar tocando em qualquer lugar”. Um tapaço com luva de pelica na cara de todos que quiseram mistificar essa apresentação, dizendo que a banda escolheu o RJ para registrarem esse recorde de público. O show em si foi um espetáculo, como já era esperado. Luzes, um palco gigantesco, e até um pequeno palco móvel que avançou alguns metros em meio ao público. Durante quase duas horas a banda passeou por entre músicas de seu último trabalho, clássicos e músicas “tapa buraco”. Praticamente todos os clássicos foram tocados, fechando com o hino Satisfaction. Faltaram músicas como Like a Rolling Stone, que sinceramente não entendi o por que de não ser tocada, e Paint in Black, que em minha opinião é a melhor música da banda, e quase nunca executada ao vivo. Foi um grande show, mas um show menor se comparado com a grandeza dos Stones. Não foi um show inesquecível, mas sim um evento inesquecível. A prefeitura do RJ marcou mais presença do que a própria banda...

SET LIST:
Jumpin' Jack Flash
It's Only Rock 'n' Roll
You Got Me Rocking
Tumbling Dice
Oh No, Not You Again
Wild Horses
Rain Fall Down
Midnight Rambler
Nightime's the Right Time
This Place Is Empty
Happy
Miss You
Rough Justice
Get Off Of My Cloud
Honky Tonk Women
Sympathy For The Devil
Start Me Up
Brown Sugar

Bis
You Can't Always Get What You Want
Satisfaction