domingo, 20 de março de 2011

Draconian Times Tour – Paradise Lost



Antes de mais nada, acredito ser válido um breve posicionamento sobre o que fez esse momento acontecer. O Paradise Lost (vamos chama-lo daqui em diante apenas de PL) é um fenômeno as avessas. Com seus vinte e três anos de estrada, nunca fez parte do hall das mega bandas. Mesmo tendo em seu curriculum o fato de terem sido os inventores do Gothic/Doom Metal, estilo hoje tão difundido e até certo ponto saturado, mergulhado em clichês cansativos que já não remetem mais ao que o PL apresentou ao mundo duas décadas atrás. O PL talvez seja a única unanimidade que conheço no mundo Metal: ou vc é fã, ou vc respeita. Jamais ouvi um comentário depreciativo em relação a sua extensa estrada, que em tantas vezes já se reinventou. E sim, claro, nunca agradou plenamente a todos os fãs. Muitas mudanças de direcionamento musical, muito até experimentalismo marcou essa estrada após o artigo em questão aqui: o mítico álbum Draconian Times. Isso provavelmente explique uma parcela da força e peso que esse álbum carrega dentro da história do estilo. Ele foi um marco, uma inovação, um divisor de tudo o que foi feito até ali. E, calculadamente ou não, com as citadas mudanças bruscas de direcionamento musical que a banda trazia a cada novo trabalho, os fãs mais clássicos (me incluo nesse grupo) foram desejando cada vez mais e mais um revival dos tempos de Draconian (com perdão do trocadilho). Era meio inadmissível que uma banda responsável por tantas mudanças no meio Metal flertasse tão claramente com o eletrônico, chegando ao ponto de lançar um álbum quase sem guitarras (o extremamente controverso Host). E, sem medo de errar, digo que todos esperavam o momento em que um “novo Draconian” seria lançado. E aí acredito estar a raiz do mito. Raiz sim, motivo do, jamais. O Draconian Times é um álbum fenomenal, com músicas fortes e marcantes, letras históricas e inspiradas. Contou com uma produção esmerada e uma arte gráfica muito bonita. E assim, de forma natural, tornou-se um ícone. Um divisor, um marco na carreira do PL e, consequentemente, isso tudo dentro do Gothic/Doom Metal. Logo, o relançamento desse álbum hoje não chega a ser uma surpresa, assim como a turnê armada para divulga-lo, onde o mesmo está sendo tocado na íntegra. Na verdade, isso não passa de um grande agradecimento da banda aos seus fãs, que sempre sonharam em poder presenciar isso. Mesmo que fosse apenas em um DVD, já que (por enquanto) essa tour tem apenas sete datas e fechará com uma apresentação em Londres, onde será gravado o citado DVD. Obvio que ninguém imagina e quer que isso pare nessas sete. Todos que seguem o PL à tempos desejam ver isso se transformando numa grande turnê mundial. Mas, por hora, o que temos são essas datas marcadas, das quais três já aconteceram, na Grécia (as duas primeiras em Atenas e a 3ª na cidade de Thessalonika). E nossos amigos gregos foram bem simpáticos fornecendo vídeos de quase todas as 19 músicas executadas nesses três dias.

Os shows e a execução do Draconian Times


Algumas questões estavam em minha mente desde o dia que soube que essa tour existiria. 1° - teclados ao vivo ou samplers, como sempre foram usados, já que o Draconian tem muito teclado de apoio? 2° - Desde a saída de Lee Morris a banda não teve mais backing vocal, e o Draconian é permeado de backing vocals. O que seria feito? 3° - Qual o cuidado que o Adrian Erlandsson (novo e renomado baterista da banda) teria ao tirar essas músicas, já que a mudança na parte rítmica no PL com o Draconian foi gritante? Aliás, arrisco a dizer que o fator fundamental, musicalmente falando, para essas músicas serem tão fortes seja justamente a bateria, que teve um salto gritante com a saída de Matt Archer e a entrada do Lee, que criou linhas realmente incríveis e novas para aquele momento.
Duas dessas perguntas foram respondidas já no vídeo de Enchatment, que obviamente abre os shows. Havia um teclado no palco! E um tecladista atrás dele! Milley Evans (tecladista da banda Terrorvision), assumia o posto de sexto homem em palco nessa tour. Assim como também todos os backing vocals. Que diga-se, estão sendo feitos a risca! Fortes, como são os originais, chegando quase a sonoridade ouvida no álbum. Incrível e reconfortante! A última das perguntas foi sendo respondida a cada novo vídeo assistido, e confesso não conseguir expressar uma opinião. Prq, fica nítido que Adrian estudou as músicas, pois até a Elusive Cure (incluo Shades of God aqui também) todas estavam sendo executadas quase como num playback! Sequer a contagem de tempo no chimbal durante as pausas, algo natural em execuções ao vivo mas não existentes na gravação em estúdio, ele estava fazendo. Porém, senti falta de trechos marcantes em Jaded e I See Your Face, onde ele inventou todas as viradas da introdução. Mas nada se compara ao feito na Yearn for Change. Essa sim não consegui entender o que se passou na cabeça do nosso novo querido baterista. Ele suprimiu muito do que existe no original. No terceiro show, em Thessalonika, ele simplesmente tocou outra música, pois o que sumiu de notas e frases completas ali não está escrito! Confesso ter sentido uma ponta de revolta ao assistir esse vídeo. Logo, não sei se classifico o desempenho dele como aprovado pela porcentagem maior de momentos fiéis, ou se me decepciono por ele ter modificado justamente as partes mais marcantes. Enfim. Busquem no youtube os vídeos e tirem suas próprias conclusões sobre.


Com as respostas obtidas, fui atentar-me a todo o resto. E o que eu vi foi o PL que estamos acostumados a ver. Sem exageros em cima do palco, uma produção intimista no mesmo, onde vemos apenas um pano de fundo com a capa do Draconian, durante todo o show. Greg com o mesmo visual de 16 anos atrás, Aaron agitando de seu jeito tão característico como sempre. Steve paradão como lhe é característico, embora um pouco mais “animadinho”. Todos cantando as letras o tempo todo, inclusive Adrian. E um Nick um tanto quanto diferente do que estamos acostumados. Tanto visualmente como em sua postura de palco. Pareceu-me mais solto, mais interativo, mais descontraído que o habitual. Como se estivesse sentindo um prazer maior nessa tour que o demonstrado nas outras. Sua interpretação das músicas está muito boa, embora seu timbre de voz hoje não seja aquele que ficou marcado em nossos ouvidos através de anos de audição do álbum. Porém, está casando perfeitamente com o backing de Milley, o que faz as linhas de vocal ganharem uma força nessa tour que nunca havia visto antes. As músicas em si acredito não trazerem tantas surpresas, afinal, de Enchantment até Elusive Cure, todas continuaram fazendo parte de todos os set lists regulares, em todas as tours (inclusive em suas duas últimas passagens por aqui, em 2006 e 2008). Eu mesmo, que pude ver seus shows desde o histórico Monsters of Rock em 1995, já havia ouvido todas essas ao vivo. A surpresa mesmo estava em Yearn for Change para a frente, pois estas estavam deixadas de lado a muito tempo! Infelizmente, após muito garimpar, não consegui encontrar Hands of Reason. Mas posso dizer que, com exceção do citado sobre a parte do Adrian, Yeran for Change ficou linda, extremamente fiel ao original quando ele executou as partes como foram gravadas. De emocionar mesmo! Shades o f God ficou extremamente fiel também, linda. Hands não encontrei. I See Your Face senti meio descaracterizada por completo. O efeito da guitarra na intro não foi o mesmo, as mudanças que Adrian fez, a forma com Nick a cantou. Uma certa decepção até, já que ela é a minha favorita nesse álbum. Porém, Jaded foi executada com uma maestria que foi de chorar a primeira vz que ouvi! Ficou linda, extremamente fiel a original, inesquecível! Arrisco a dizer que foi a melhor execução entre todas as músicas do Draconian nesses três primeiros shows realizados na Grécia.

Minha última curiosidade não era sobre o Draconian, mas sim se eles estariam tocando músicas além das do álbum. E sim, estão fazendo dois encores, o 1° com quatro músicas e o 2° com duas. Destas seis, três estão sendo fixas: Faith Divide us - Death Unite us (que diga-se, ow música forte! Que refrão espetacular!), One Second e Say Just Words. Dois hinos indispensáveis, diga-se. Outras três foram executadas duas vzs: As I Die, True Belief e Embers Fire, que em minha opinião não poderiam sair jamais de qualquer set list deles em qualquer tour! E as outras duas restantes foram Sweetness no 1° show em Atenas e Mistify no 2°. Essa última, surpresa total! Aqui, duas ressalvas apenas: 1ª - nos vídeos do 3° show, em Thessalonika, percebi a banda meio perdida nos encores, coisa que não percebi nos vídeos de Atenas. Prefiro acreditar que seja algum problema técnico da casa onde estavam tocando; 2ª – mais uma crítica ao Adrian. Ele está simplificando demais as músicas. Para quem acostumou com as execuções do Jeff Singer, chega a ser meio frustrante ouvir algumas. Ele conseguiu deixar a One Second mais “reta” do que ela originalmente já é! E estou citando tanto o desempenho de Adrian prq, pela estrada, respeito e capacidade que todos sabem ele ter, é muito estranho ouvir essas execuções. Desejo verdadeiramente que ele tenha um pouco mais de cuidado nos próximos shows dessa tour. Mas foi muito bom ver o clima da banda durante esses encores, sempre descontraídos. Nick e Milley brincando muito com a platéia, iniciando algumas músicas famosas e parando assim que o público as reconhecia. Isso para mim é novidade, e me agradou bastante.


A conclusão que chego é que, se vc não for um fã inveterado, que passou 16 anos sonhando com esse momento, os problemas citados passarão despercebidos, pois a magnitude do momento é muito maior que qualquer um deles. Se vc, assim como eu, é um desses que esperou 16 anos por esse momento, vai sim perceber essas diferenças, mas vai chorar o show inteiro! Prq é realmente emocionante ouvir todas essas músicas sendo executadas, sequencialmente, ao vivo. Qualquer coisa negativa citada aqui não diminui uma vírgula no desejo de presenciar in loco esse show. De vivenciar esse momento. Pois isso é sim algo único dentro do estilo. E a nós, fãs brasileiros, resta esperar que eles tragam isso tudo para cá, para que possamos fazer parte da história assim como nossos (poucos e felizardos) amigos europeus estão fazendo.