terça-feira, 25 de janeiro de 2011

Catástrofe em Teresópolis (RJ) - 15-24/01


Marcas do inferno

Quando eu era criança, havia um senhor, morador aqui do bairro, que havia sido Pracinha na 2ª Guerra. E, devido a isso, ele não podia ver a cor vermelha. Ele tinha a vida normal dele, andava pelas ruas, frequentemente quando andava com meu avô nós o cruzávamos. Porém, meu avô sempre me advertiu para ter cuidado com ele, caso ele surtasse algum dia. Eu era muito jovem, estava acostumado a ver aqueles filmes de guerra na TV em que os caras tomam tiros e sequer sangram, que um babaca sozinho derruba na unha um exército inteiro. Aquilo para mim era extremamente complicado de entender. Porém, me marcou demais.
Já adolescente, meu grande irmão, Nick, me contou que sua avó (D. Giulieta, grande senhora, já falecida) não podia ver filmes de guerra. Ela havia sido enfermeira na 2ª Guerra. Italiana natural, esteve na retaguarda, e o que ela tratou por lá a fez não querer ver sequer filmes relacionados ao assunto pelo resto de seus dias.

Sempre achei isso insano demais. Sempre lidei com situações limite (no campo emocional), situações que me destruíram, que eu cheguei a imaginar que fossem deixar marcas negativas imortais em mim. Porém, nunca aconteceu. Logo, para mim, traçar esse paralelo sempre foi um pouco complicado. Passei minha vida inteira precisando de campo. De ação. De algo que me colocasse próximo a aquilo que procurei entender por toda minha vida. E então, no início do ano, aconteceu a catástrofe das chuvas no RJ. E Teresópolis aconteceu em minha vida. E agora acredito entender um pouco disso.


Tenho percebido que, viver de forma direta e intensa situações que fogem totalmente de sua rotina física e emocional, impreterivelmente, deixa marcas. E, algumas situações em específico, vividas no RJ, acabaram por me marcar muito. A primeira coisa que percebi foi minha atitude de olhar de autômato para o céu ao perceber um helicóptero. Lá estava uma própria praça de guerra, e helicópteros passavam a cada 10min. E eu sempre olhava para ver qual era, pois dependendo da “patente” do helicóptero, podia-se descobrir o que acontecia onde ele sobrevoava. E, vivendo numa cidade que, se não me engano é a 2ª maior frota de helicópteros do mundo, acredito que isso mostre como foi meio estranho estar aqui com essa reação autômata.
A segunda coisa que percebi é como meu cérebro recebeu a imagem das fraldas arrumadas no centro de arrecadação. Primeiro mercado em SP, comprar material de limpeza/higiene, e me deparei com aqueles pacotes lá. Paralisei por alguns segundos diante deles, mas não de uma forma negativa. Uma sensação estranhamente difícil de descrever, que não me incomodou, mas me lançou a um breve momento numa dimensão paralela, quase como se eu estivesse lá na ação novamente.


A terceira coisa é perceber como meu cérebro calibrou certas imagens e cores. Estava na casa de minha mãe domingo, olhei pela janela e vi as árvores a frente, e no meio delas o telhado marrom da casa a frente. Ao bater o olho naquilo, eu vi automaticamente lama em meio a entulho. Fui até ela (minha mãe) e perguntei o que ela via ao olhar pela janela. Ela respondeu “Oras, árvores, o telhado de uma casa”. Eu disse “Eu vi lama e verde entulhado”. Ontem, passando em frente ao estádio do Palmeiras, que está em reformas, vi aquelas pilhas de entulho. Na hora meu cérebro ligou aos montes de entulhos vistos por lá, e vc automaticamente começa a procurar por algo em volta. Não esqueça que eu estava trabalhando nos resgates. Mas não havia nada em volta, aquilo era apenas uma construção!


Em relação a lama, uma coisa que me marcou demais foi o comentário do Gato (marido da Beta), em meu 1° atolamento: “Sabe qual meu medo de entrar onde não ta dando? Acabar igual vc agora, mas com o pé enfiado no abdômem de alguém que ainda estiver lá embaixo.” Definitivamente, isso é o tipo de coisa que vc não pensa ao sair de casa e, por mais que vc se prepare para a coisa, ao estar lá e enxergar e verdade da situação, te arregaça internamente. A lama deixa de ser lama, e torna-se uma cova. O entulho passa a ser possibilidade, já que o 1° cachorrinho que resgatamos estava em meio ao entulho.


E tenho percebido que essas são situações que não te apenas calibram, elas te mudam para sempre. Vc, após entrar numa dimensão jamais experimentada, não poderá voltar a ser o que era. Minhas percepções mudaram muito. Minha forma de sentir as situações, minha vontade de viver a vida, tornou-se muito maior e coerente. O caos, a morte e tudo aquilo que normalmente nos posicionamos longe ganham um ar doentiamente natural. Que te faz sentir parte de tudo aquilo. E quando vc passa a fazer parte do caos e da morte, nada mais pode ser vivido e vivenciado da mesma forma que antes.

Acredito que o vazio tenha sido algo extremamente forte também nessa vivência no inferno. Experimentado de algumas formas diferentes.

A 1ª que me lembro nitidamente foi logo no domingo, quando cheguei. A cidade estava acordando, completamente vazia e ali, naquele bairro, plenamente intacta. Dia claro, mais um dia nascendo, uma ou outra pessoa na rua, eu não fazendo idéia de onde estava, porém, tudo lindo a minha volta. Lembro que cheguei a pensar comigo mesmo “Cacete, nem parece que o inferno veio para cá. Ta tudo tão normal aqui!”. Acho que aquele foi o último pensamento assim que eu tive nos dias que permaneci lá. Ainda no domingo, o 2° momento. Gato organizou um churrasco para comemorar o resgate do Tio Pepe (feito antes de eu chegar por lá) e, enquanto todos estavam se divertindo, eu estava na sala, assistindo a TV Teresópolis, vendo imagens e matérias do que acontecia lá. E lembro perfeitamente da sensação de impotência que tomou conta de mim ao me deparar com aquilo. Lá eu estava sendo bombardeado de informação a todo momento. Não era aquela meia hora diária nos jornais da Globo. E, estar ali, para fazer algo, e perceber a dimensão do caos, me fez sentir uma gota em um oceano. Um vazio impotente estranho tomou conta de mim naquela tarde.


Mas talvez o momento mais marcante relacionado a vazio tenha sido na 1ª saída para campo que fiz, nos primeiros passos atrás do Phil. Nossa 1ª parada foi no bairro Cruzeiro, e ali eu tive finalmente meu 1° contato real com a coisa. Havia passado pelo Caleme (que também foi brutalmente arrasado), mas só na entrada, e a noite. Cruzeiro foi, posso dizer, meu “batismo de fogo”, ou mais apropriado, “batismo de lama”. Enquanto Gato e Beta tentavam infos sobre como entrar na Fazenda Alpina (que era nosso destino real), fui fazer um pouco de fotojornalismo. Devo ter ficado coisa de uns 15min no bairro, 5min na parte alta, afetada porém já com vida retomada; e mais 10min na parte baixa, essa sim devastada pelo rio. A sensação de entrar naquele terreno foi indescritível. O que até então era um bairro normal, afetado pela catástrofe, do nada tornou-se uma clareira imensa, marrom, tomada de destroços e entulho. Parei, meio absorto, para fazer algumas fotos, e nesse momento um senhor caminhou em minha direção, vindo de trás. Parou brevemente ao meu lado, respirou um segundo. Eu estava paralisado! Não conseguia dizer palavra diante daquilo! A única coisa que consegui dizer a ele foi “Que coisa incrível, não?” Ele respirou fundo por um momento, e começou a falar sobre o ocorrido. Mas, o vazio em seus olhos era tão grande que mal lembro de suas palavras. Era como se estivesse olhando para um boneco, com aqueles olhos vazios, que buscavam algo naquele terreno que eu jamais compreenderei. Ele terminou de contar sua história, me despedi lhe desejando toda boa sorte do mundo, e fiquei tão destruído ao ver aquilo que sequer consegui fotografa-lo saindo.


E já que vazio também pode ser interpretado como solidão, naquele mesmo dia nós fomos até o Holliday, outra tentativa de chegar na Fazenda Alpina. E lá foi o 1° contato com morte que eu tive, pois o cheiro de decomposição que estava ali (lugar que a Defesa Civil ainda não tinha ido) era tal que nos fez abortar a missão naquele dia. Pensei sozinho: se aquela era uma das entradas, e assim como as outras estava inacessível, para uma região onde deviam ter várias pessoas ainda, como deveria estar o emocional destas? E de todas as outras em situação similar? Como deveria ser presenciar um pedaço do mundo sumir na sua frente, se perceber isolado do mundo exterior, e sem a menor consciência de como proceder a partir dali? No meio daquele caos, essa idéia ganha uma força e uma dimensão impossível de narrar para leitores que nunca saíram da cidade.


Mas o maior vazio de todos foi o sentido aqui em SP. Já de volta, instalado em minha casa novamente, reencontrado com meus pais, a coisa parece que se assenta. E aí vc começa a repassar tudo. E percebe que a vida ganha um vazio insano após uma situação assim. Não ter para quem contar isso, não ter alguém te esperando, é por demais cruel. Sempre vi nos filmes de guerra que a pior coisa enfrentada pelos soldados era receber baixa e não ter para quem voltar. Enquanto o Sol do RJ ainda queimava minha pele, mesmo que em lembrança, isso não me afetava. Lá eu era outro, uma outra vida. Quando a garoa de SP retomou seu posto, parece que nada mais existia a minha volta. E sou obrigado a dizer que isso está me enlouquecendo. Pois lar é onde o coração está. Mas meu coração está suspenso, como um sobrevivente soterrado até o pescoço, esperando ser salvo enquanto ainda seja possível.

Não poderia deixar de citar em específico, falando em marcas, a maior que carrego comigo: o cheiro. Talvez pelo fato de eu ter meu olfato quase que 100% comprometido pelos inúmeros problemas respiratórios que tive/tenho, todo e qualquer cheiro que sinto realmente acaba por me marcar de alguma forma. E aquele cheiro, sentido por três vzs lá, não sairá de mim jamais.
O 1° momento foi no citado Holliday. Mas ali ainda, para mim, não estava tão forte. Acredito que eu estivesse tão afetado por outros sentidos naquele dia que meu olfato continuou em seu padrão normal. Mas eu senti. E não foi nada comparado com o que já senti aqui em SP. Morte, esgoto, lama, tudo isso depositado junto a dias, embaixo de um Sol de rachar. Tentem imaginar.


O 2° e 3° momentos aconteceram no dia em que fui para o posto de arrecadação. Nunca tinha ido tão longe (estava quase em Santa Rita, um dos bairros que desapareceram). Havia ido até alguns KM antes e sempre voltado dali. Naquele dia, ao passar e seguir um pouco além do que havia sido meu limite até então, me vi inserido em uma cena de filme. No exato momento em que passava por ali, me lembrei daquela sequência final de Platoon, ao som de Adágio for Strings, onde o personagem do Sheen sai do campo de batalha de helicóptero, enquanto assiste a limpeza do campo abaixo dele. Se alguém já assistiu, pode ter uma noção. Devastação, muita lama, bombeiros e soldados, com máscaras em meio a muita poeira, trabalhavam ao lado de tratores removendo aquilo tudo. E um cheiro insuportável, que fez a Amanda fechar os vidros do carro enquanto passávamos por ali. Ao passar ao lado daquela cena, lembrei de outro momento clássico dos filmes de guerra, agora o momento final de Apocalypse Now, onde Mr. Brando diz “O horror. O horror.”


E finalmente o 3° e último momento pesado, olfativamente falando, e curiosamente o pior deles: o Hotel Pirâmide. Enquanto estava no posto, surgiu a info que bombeiros trabalhavam a 3kms dali em um hotel que havia caído, e que ainda contava seis corpos soterrados. Os jornalistas da ONG Viva Rio me chamaram para ir com eles até lá, e obviamente aceitei. Peguei a Vick e fui, de viatura policial, escoltado por bombeiros. E, ao adentrar o terreno que era do hotel, pude sentir como devem ser incômodas certas situações para quem tem um olfato que funcione normalmente. Ali a situação estava realmente ruim. Cheguei a perguntar para o bombeiro que nos escoltava como eles agüentavam aquilo. E, falando sobre morte, ele fez mais um daqueles comentários para virar tatuagem na mente. Comentei com ele que achava incrível como eles ainda conseguiam encontrar corpos embaixo de um mar de lama como aquele. A resposta foi apenas “Encontra, encontra sim. O problema é em que estado.” Um pouco abaixo havia um senhor que, segundo o que foi contado, estava ali desde manhã, pois um de seus parentes era uma das vítimas soterradas. No instante em que ouvi aquelas palavras, tentei me colocar no lugar dele, vendo alguém que amo sair dali de baixo, irreconhecível. Sinceramente, acho que ninguém está preparado para isso. Uma das concepções mais Dantescas que minha mente pôde criar.

Esses momentos, para mim, me levaram especialmente a lugares nunca antes explorados em meu subconsciente. As pancadas foram fortes. Mesmo. Isso era o tipo de coisa que voltava a minha cabeça antes de dormir e enquanto eu fazia minha caminhada diária de 10km até o Soberbo. Imagens que vc não precisa buscar, pois elas saltam a sua frente. Pois, acima de ser imagens, cheiros, palavras, são experiências de vida. Muito além das que vivemos em nossa medíocre vida urbana. O medo, a angústia, a solidão, a esperança, o desejo, a força e prq não dizer a fé, o amor e a própria vida ganham nova cor, nova roupagem. Ganham uma força e uma dimensão que só estando ali para enxergar. E mesmo assim esse enxergar é feito com a alma. Vem com o tempo. É absorvido dia a dia. E, ainda não consigo traçar paralelos linkáveis, acabaram por me tornar algo que eu precisava ser. Colocaram minha vida em outro patamar. Porém, algo que admito, não estou conseguindo lidar.


Obviamente que o caos nos afeta muito mais que o Éden, mas seria injustiça narrar apenas as nuvens cinzas da experiência. Afinal, assim como eu fui para lá para trabalhar em prol de uma causa maior, milhares de outras pessoas fizeram o mesmo. E acredito que, olhando agora para aquele momento, eu tenha estado todo o tempo em contato com voluntários tão ou mais valorosos do que eu pude ser. Gato e Beta, que fizeram tantas saídas de campo, resgataram o Tio Pepe e o Phil, assim como seus pertences, além de dois cãezinhos. Ajudaram o exército e a defesa civil, com infos, dados, mapas e mais. Isso sem esquecer da família que abrigaram por um dia em sua casa, retirada de Santa Rita. E tudo isso sem receber um centavo de ninguém, nem mesmo da prefeitura.


O Jeep Club de MG que encontrei no Soberbo, enquanto limpava minha alma após o resgate das coisas do Tio Pepe (o caso do atolamento), que subia a serra com um caminhão com 12 toneladas de água, fora doações menores.
A Amanda, que conheci no mesmo dia e local, foi a responsável pela minha ida até o centro de arrecadação de doações, se tornou um porto seguro por lá. E isso depois de ter trabalhado a semana inteira no posto citado, vindo todos os dias de Caxias.
As pessoas com as quais trabalhei nesse posto, muitos moradores do próprio bairro, fazendo por eles e por todos os outros que também receberiam aquelas doações.


Bombeiros e policiais com os quais pude conversar e ouvir suas histórias, de trabalho ou mesmo de sobrevivência dos que moravam/moram na região.
Veterinários voluntários que conseguiram colocar aquele galpão para funcionar e, pela primeira vz na vida pude ver isso, alguém se preocupando não apenas com vidas humanas. Talvez um dos trabalhos mais belos que pude presenciar. Aquilo era uma loucura, um pequeno caos dentro de um caos maior, mas quando algum cachorrinho chegava, parecia que um Sol particular se abria sobre todos.
Moradores como o citado senhor de olhos vazios, que perderam tudo, menos a vontade de viver e recomeçar. Pessoas que pareciam ocas, mas continuavam caminhando, mostrando uma força humana que eu jamais havia presenciado. Faziam o delas e o dos demais.

Histórias tão distintas mas que, por um motivo maior, se cruzaram. Um motivo que transcendia qualquer normalidade. Um motivo maior a qualquer coisa inerente a vida singular de qualquer um. Ajudar. Pura e simplesmente. Cravar seu lugar no mundo de uma forma que poucos fazem. Soldados heróis sem nome, mas nem por isso menos valorosos. Feitos que, para quem estava sob um mesmo teto, eram reconhecidos nominalmente. Mas, no âmbito maior, aplicado, um nome, um rosto, era o que menos importava. Todos fizeram pelo bem maior. Todos fizeram por seu motivo particular, mas todos fizeram.
Ao sair daqui, eu pensava em escrever uma história forte por lá. Voltar para casa maior, com algo que fizesse os meus se orgulharem de mim. Porém, após chegar lá e tomar contato com tudo, depois de atolar na lama, sentir aquele cheiro, ver olhos vazios, ouvir palavras desencontradas, presenciar a destruição visceral, ver lágrimas, ver sorrisos. Depois de me tornar de alguma forma parte da história, nenhum agradecimento ou parabenização se faz necessário ou tem real sentido. Não é mais possível se sentir maior ou melhor que alguém por estar fazendo o que fiz. O que fizemos. Que para todos nós foi tão pouco. Mas para quem recebeu qualquer coisa daquilo, certamente, foi muito!

Honra. De ter estado lá.
Orgulho. De ter despertado orgulho nas pessoas.
Força. Estendida para estar lá sempre que preciso.

Vazio. Que por mais que eu faça e seja, parece nunca mais sairá de mim.


Local: Bairro Comary - Teresópolis (RJ) - 17/01/11
Grupo de soldados do exército, envolvido em missões de resgate aéreo, chega aos campos da Granja Comary, que foram usados como heliportos improvisados. Também podia-se perceber tendas de campanha e hospitais de campo montados ao lado de onde os helicópteros ficavam.


Local: Bairro Cruzeiro - Teresópolis (RJ) - 18/01/11
Primeiro lugar afetado visitado, e esta foi a primeira imagem real da catástrofe registrada por mim. Percebe-se nitidamente nos escombros a direita que a rua cedeu, e engoliu tudo o que tinha em volta.


Local: Bairro Cruzeiro - Teresópolis (RJ) - 18/01/11
Essa imagem retrata o desespero e incredulidade de Roberta, uma das voluntárias da equipe de campo, diante das imagens observadas no bairro.


Local: Bairro Cruzeiro - Teresópolis (RJ) - 18/01/11
Essa iamgem retrata bem o volume das águas que passaram por ali. As duas margens, entulhadas e afetadas, e o grande vão aberto entre elas. Repare na imagem ao fundo, nas casas, a altura da marca que a água deixou ao passar.


Local: Bairro Meldom - Teresópolis (RJ) - 18/01/11
Abrigo improvisado para animais resgatados.


Local: Parque do Imbuí - Teresópolis (RJ) - 19/01/11
Essa imagem encabeça as fotos desse meu trabalho, pois tornou-se emblemática para mim. Ela mostra dois moradores do condomínio que abrigava vários sítios, e foi grandemente devastado pelo morro que existe logo a frente, que cedeu e varreu tudo pela frente, saindo com o que puderam carregar. O rapaz é o caseiro do local, e foi responsável pela retirada de muitos corpos (humanos e animais) no primeiro momento após o choque inicial. Percebe-se que seu peito foi o local escolhido para que ele demonstrasse e carregasse sua fé e sua proteção: seus pelos foram cortados em forma de cruz.


Local: Mirante do Soberbo - Região Serrana (RJ) - 19/01/11
Após um dia de muito trabalho em campo, uma pausa no mirante, para apreciar a vista privilegiada da Serra dos Órgãos. E, eis que no exato momento em que paramos lá, uma tempestade sobre a cidade do Rio pode ser vista entrando pelo lado direito da imagem. Uma imagem extremamente forte, assustadora e linda. A mesma força da natureza que havia causado tudo aquilo, agora encantava e desenhava uma paisagem única.


Local: Bairro Providência - Teresópolis (RJ) - 20/01/11
Galpão improvisado como centro de arrecadação/triagem/distri​buição de doações. O que se percebe claramente nessa imagem é a incrível quantidade de doações de calçados, e a total falta de organização para faze-lo. Muitos mantimentos, roupas, numa demanda impossível de ordenar antes que mais chegue. Este local me fez perceber a grandeza do povo em sua vontade de ajudar.


Local: Bairro Providência - Teresópolis (RJ) - 20/01/11
Esse foi um dos momentos mais marcantes para mim. Enquanto trabalhava no posto de arrecadação de doações, chegou a informação que um grupo de bombeiros estava trabalhando em um hotel soterrado, a 3km dali. As informações contavam também ainda seis corpos não encontrados no local. Fomos eu e mais dois fotojornalistas da ONG Viva Rio para o local, junto com a polícia local, e o que encontramos ali foi uma área totalmente devastada, emoldurada por um cheiro de decomposição impossível de esquecer. Essa imagem me chamou muito a atenção, pois ela mostra um senhor, que permaneceu imóvel nesse local (que um dia foi a piscina do hotel) e posição, durante todo o tempo em que pude estar ali. Ele esperava que fosse encontrado o corpo de um familiar que estava soterrado.


Local: Fazenda Alpina - Teresópolis (RJ) - 22/01/11
Essa imagem foi feita enquanto caminhava por uma trilha que terminava em um alagamento, onde percebia-se em meio a muito entulho, dois carros virados e parcialmente submersos. Me chamou a atenção essa pá fincada e abandonada, que a mim passou uma sensação de desalento, como que quem houvesse começado um trabalho de limpeza do local o tivesse abandonado na sequência, diante da dimensão da destruição.


Local: Fazenda Alpina - Teresópolis (RJ) - 22/01/11
Walter (um dos voluntários) ajudando o pai de Phil (um dos moradores de uma das áreas mais devastadas) a atravessar um rio de lama que se formou em frente ao terreno onde até então existia um sítio. Observem que, apesar de sem correnteza, a água chega ao nível do joelho das pessoas, dez dias após a grande chuva ter acontecido.


Local: Fazenda Alpina - Teresópolis (RJ) - 22/01/11
Resgate do Phil (e de alguns pouquíssimos pertences de primeira necessidade para a continuação da vida), planejado e tentado por mais de uma semana, finalmente realizado.


Local: Fazenda Alpina - Teresópolis (RJ) - 22/01/11
Eu, ao final do resgate do Phil (resgate este que levou mais de sete horas desde seu início até o momento em que chegamos em casa), último dia de trabalho em Teresópolis.