(Trabalho para o Portal do Inferno)
Live`n Louder, o maior festival de Rock/Metal do Brasil, mais de 15 horas de música transitando por entre diversas vertentes do estilo em perfeita harmonia, firmando cada vez mais seu nome no cenário de shows do Brasil, deixando o público ansioso pela próxima edição.
O evento começou de uma forma lamentável, com o cancelamento de um dos headliners do evento, os ingleses do Saxon. Isso gerou uma expectativa entre o público, pois foi divulgado que para o lugar vago haveria uma atração surpresa.
Os primeiros a subir ao palco foram os “Deuses do Metal”, Massacration. Verdade seja dita: a banda pode ter surgido até mesmo como uma forma de “detonar” o público headbanger, mas acabou virando mania entre a galera adolescente, e queira ou não eles sabem fazer o show. Tocam bem seus temas simples, mas que funcionam, e agitam o tempo todo. Com sua característica caricata, mas agitam! O vocalista Detonator é um show a parte. E, num set de apenas vinte minutos, tocaram todos os seus “hinos clássicos”, como Metal Cereal, Metal Massacre e Metal Bucetation. Conseguiram cumprir seu papel, esquentar o público que chegava ao Anhembi.
Na seqüência veio ao palco a banda paulista Mind Flow. Show que faz parte da turnê de divulgação de seu mais recente álbum, Mind Over Body, onde o que pudemos ver foi um prog Metal de primeiro mundo, muito bem executado, com peso na medida certa. Abrindo o show com a bela Crossing Enemy´s Line, o destaque do show pode ser dado ao vocalista Danilo, que na contra-mão da maioria das bandas do estilo, sabe como segurar o público, agitando bastante e preenchendo todo o palco. O público acabou reagindo muito bem a banda, fato comprovado na banca de merchandising após o show.
Abrindo a parte internacional dos shows, o Hard Rock suíço do Gotthard. Apesar de não muito divulgado aqui no Brasil, pude perceber que havia um público deles presentes ao local, pois vi várias camisetas da banda. Sem contar que a reação do público geral ao show foi maravilhosa, muita agitação a gritaria o tempo todo. Impossível não olhar para seu vocalista e não lembrar de David Coverdale, até mesmo pelo talento ao cantar. Divulgando seu último trabalho, Lipservice, o Gotthard soube manter seu show no alto o tempo todo, inclusive mandando um cover de Deep Purple, Hush. Uma grata surpresa do evento.
Após uma aula de Hard Rock é hora do Power Metal dos alemães do Primal Fear. Com um grande público presente, o Primal fez o que pode entre os inúmeros problemas no microfone de Ralf, que por pouco não chegaram a comprometer o desenrolar do show. Um vocalista do porte de Sheepers merecia mais que isso. Destilando músicas como Nuclear Fire, Angel in Black, Seven Seals, e contando com participações especiais do porte de Roy Z e Renato Tribuzy, que executaram juntos Final Embrance. E, se todos os problemas de microfone não fossem suficientes, a exemplo do que aconteceu com o Tuatha de Danan ano passado, a organização simplesmente cortou o som da banda antes do término de sua apresentação. Visivelmente constrangido, para não dizer decepcionado, Sheepers foi ao microfone para dizer que o show havia acabado devido a “problemas técnicos”. A organização do LnL deveria ter um pouco mais de respeito com suas atrações. Lamentável.
Na seqüência, os holandeses do After Forever. E, apesar de seu set extremamente curto, e em minha opinião outra falha da organização, pois o público da banda estava em massa ali presente, dividindo com o Nevermore (que viria mais tarde) a quantidade máxima de camisetas que por ali desfilavam. A banda merecia um tempo maior de palco, e seus fãs também. Felizmente, souberam montar um set list praticamente perfeito dentro desse pouco tempo. Abrindo com Come e Boundaries are Open, de seu mais recente álbum Remagine, o After mostrou mais uma vez que é uma das grandes bandas no cenário atual. Floor Jansen, apesar de todos os problemas que também enfrentou com o microfone, simplesmente arregaça no palco, é uma vocalista diferenciada não somente pelo extremo talento, mas também por sua simpatia e presença única de palco. Como um grande presente aos fãs, é executada a música Emphasis, hino da banda que faltou na apresentação do ano passado. Tocando músicas de todos os seus álbuns, como Digital Deceit, Monolith of Doubt, My Pledge of Allegiance 1 e Follow in the Cry, e também do mais recente, como Living Shields, Being Everyone e Face your Demons, com Floor inclusive colocando uns chifrinhos vermelhos na cabeça. Mas o melhor a banda reservou para o final, Forlorn Hope, faixa final de Decipher, onde ficou nítido que esse é o álbum mais querido entre os fãs. Impressionante a reação do público, impressionante a performance da banda e também seu carisma. O primeiro grande show do dia.
Mantendo o pique de vocais femininos, a lenda alemã Doro. Pela primeira vez no Brasil, saciando seus fãs de longa data, Doro mostrou prq elevou seu nome a estratosfera dentro do Hard Metal. Com seu timbre rouco, e uma agressividade perfeita, Doro levou o público ao delírio, num show impecável e uma presença de palco única. Visivelmente emocionada com a receptividade dos fãs, que agitaram e cantaram todas as músicas do começo ao fim. Nem era preciso o cover de Breaking the Law, do Judas Priest. Mas, como todo bom hino, levantou a galera em peso! E, apenas para manter a tônica do dia, seu microfone também apresentou problemas, que dessa vez vieram acompanhados até de uma narração de um jogo de futebol! Coisas de Brasil... No set list, clássicos como: Burnig the Witches, Metal Racer, True Steel, Hell Bound. Uma apresentação para deixar aquele gostinho de quero mais (e rápido!) nos fãs.
O início da noite trouxe ao palco os americanos do Nevermore. E que, segundo eles, trouxeram a chuva de Seatlle para cá, pois assim que pisaram no palco iniciou-se uma breve chuva. E, totalmente ao contrário do que a idéia de uma chuva pode provocar, o que se seguiu foi um incêndio no Anhembi. Warrel Dane e cia simplesmente fizeram tremer as bases do Arena Skol com seu progthrash de peso e velocidade perfeitos para fazer o público reagir de forma insana. Final Product, Narcosynthesis, Inside Four Walls e outros petardos trouxeram ao público o segundo grande show do festival, encerrado com a gigante This Godless Endeavour. Dane parecia estar contrariado com algo, não se mostrava solto como no show de cinco anos atrás. Mas, devido a tudo o que já havíamos presenciado com as outras bandas, não é de se estranhar que ele pudesse realmente estar assim. É verdade também que Dane perdeu a mãe dias antes do show. O que vale uma nota de agradecimento, pois nem isso foi capaz de faze-los cancelar não só esse show, como também o de Curitiba. Mas a verdade é que, estando contrariado com algo ou não, ele simplesmente fez o que quis com o público, com uma presença de palco perfeita, agitando sem parar. Engraçado que ele permanecia com um boné na cabeça, e o tirava sempre que não estava cantando para “bater cabeça”. E, nota a parte, Van Willians foi certamente o melhor baterista da noite. Absurdo o que esse cara toca! Preciso, rápido, pesado. Um grande show, digno de uma grande banda!
Como todas as estruturas haviam sido abaladas pelo Nevermore, o que se seguiu foi a manutenção disso. Pois o Sepultura fez um show simplesmente perfeito! Muito diferente de suas últimas apresentações, onde ficava claro que a banda já não possuía mais a coesão de outros tempos. Agora, com um novo baterista, pode-se perceber que provavelmente o culpado por essa falta de entrosamento fosse Igor, que vinha tocando as músicas de forma muito mais rápida do que ficaria aceitável no palco. E Jean DelaBela correspondeu as expectativas gerais, pois segurou de forma precisa, tanto em execução como na velocidade todo o show. Isso fez com que a banda inteira se sentisse a vontade no palco, realizando assim um show avassalador. Andréas, em determinado momento, dirigiu-se ao microfone para dizer que “o Tricolor era cada vez mais líder isolado” (referindo-se ao São Paulo no campeonato brasileiro). Isso gerou aquela reação básica de quando se fala de um assunto polêmico: muitos gritaram, outros vaiaram, alguns até xingaram. Mas bastou Andréas voltar para a música para todos ali esquecerem o assunto futebol. Músicas de todas as fases, como Refuse / Resist, Choke, Troops of Doom, Beneath the Remains, Slave new World, Territory, Arise, não permitiram que o público parasse um só momento. Também músicas novas, de seu último trabalho, Dante XII: Dark Wood of Error, Convicted in Life e False. Roots Bloody Roots encerrou o ataque. Grande show, mostrando que o Sepultura ainda vive sem os irmãos Cavalera.
Eis que chega o momento da “atração surpresa”, que de surpresa não tinha nada, já que o comentário geral apontava para uma apresentação de André Mattos. Sim, André Mattos. E, sinceramente, essa foi a atitude mais dispensável que a organização poderia ter tido, já que era nítido para quem quisesse ver e ouvir que essa escolha não agradou ao público. O show foi muito fraco, o som estava ruim, e talvez isso não fosse culpa da organização, dessa vez. Se é que vocês me entendem... No palco, o que se via era praticamente o Shaaman, com os irmãos Mariutti, acompanhados de André Hernandez na segunda guitarra, Rafael Rosa na bateria (que fez um solo sofrível, num kit monstro onde não foi usada metade das peças) e Fábio Ribeiro nos teclados. O que se pôde ouvir, além dos coros da galera de “Fora”, viadinho” e “FDP”, foram músicas tanto do Shamaan, como Angra e Viper. O show foi encerrado com a já saturada Carry on. Totalmente dispensável.
Para abrir a fase headliner do festival, os finlandeses do Stratovarius. Depois de toda a turbulência que assolou a banda à alguns anos atrás, com a saída de praticamente toda a banda, o anúncio da famigerada Miss K. nos vocais, fato que nunca se concretizou, Timo Tolkki tendo surto atrás de surto mental e a então reunião, o Stratovarius perdeu muito do que tinha. No palco, o único que fazia questão de alguma agitação era o novo baixista Lary Porra, que diga-se é um grande instrumentista, não devendo nada para seu antecessor. Kotipelto continua com aquela presença quase nula de palco, enquanto Tolkki está parecendo uma tiazona velha, muito gordo, de cabelos curtos e estático no palco. Arrisco a dizer que o Stratovarius hoje só empolga aqueles que são realmente fãs da banda. Por que, apesar de fazer um show recheado de clássicos, fez um show chato. Hunting High and Low, Speed of Light, Kiss of Judas, Phoenix, Abyss of your Eyes (que foi anunciada errôneamente por Kotipelto), Will my Soul Ever Rest in Peace, Million Light Years Away, Against the Wind, Eagle Heart, Father Time, Forever, Paradise e para finalizar, Black Diamond. Para os fãs, um grande show. Para os não fãs, mais de uma hora de espera insossa pela atração principal.
E eis que, depois de uma demora absurda, de todos os testes de microfone possíveis realizados, e uma introdução surge no palco a lenda Dave Lee Roth. E, definitivamente, o tempo não passa para certas pessoas. E Dave é uma dessas. Pois sua postura de palco jamais entrega que ele está no alto de seus 52 anos. Muito garotão de vinte e poucos não faz metade do que Lee Roth faz. E, diga-se, conversando com o público num português praticamente fluente! Uma surpresa para a massa que ali estava, e uma surpresa muito agradável. Isso me faz pensar o por que de Derek Green, à anos e anos no Sepultura, ainda não ter aprendido a falar nosso idioma... mas enfim, falemos da lenda! Com uma ótima banda de apoio, destilando clássicos de sua grande estrada e, obviamente, clássicos do Van Halen. Dave limpou o palco, deixou todo o espaço possível para que pudesse ser aquilo que o consagrou na carreira: um show man acima de um grande front man. Sem parar um só minuto, fez uma performance baseada em movimentos de Kung Fu, do qual é praticante. Só faltaram aqueles pulos insanos dos tempos de Van Halen, mas acredito ninguém ter sentido falta disso, tamanho o carisma que Dave apresenta. Um daqueles típicos shows que quem não conhece ou não gosta do artista é obrigado a reconhecer o talento. E quem gosta não deseja que acabe! Os pontos altos foram os clássicos do Van Halen, da abertura com Hot for Teacher, passando por Panama, Ain´t talk about love, Dance the night away, Unchained e por fim, Jump. Um show memorável. O encerramento perfeito de um evento que não foi digno da grandeza de suas atrações. Muito menos do público que pagou a fábula de R$120,00 por um ingresso de pista e R$200,00 por um de área VIP. Que, ano que vem, a organização possa no mínimo descobrir o significado daquilo para o que são contratados: organizar. E que o público e as bandas recebam o respeito que merecem.