(Trabalho realizado para o Portal do Inferno)
10/12/2005. Um sábado frio e chuvoso. Mas uma data aguardada ansiosamente a seis anos por todos os fãs de Dream Theater. Seis anos de uma longa espera desde aquele show na última edição do Monsters of Rock, em 1998. E confesso que me surpreendi ao chegar no Credicard Hall. Sabia que ambas as datas haviam dado “sold out”, mas ver a multidão é algo que assusta. A fila, duas horas antes do início do show, praticamente dava a volta na casa. Logo imaginei como seria o aperto lá dentro...
Com exatos trinta e dois minutos de atraso, devido a um problema no lado esquerdo na grade de contenção, as luzes se apagam e enfim o show iria começar. Uma breve introdução e a banda surge no palco mandando The root of all Evil, do álbum Octavarium. Nesse momento era impossível ver algo no palco, devido ao volume ensandecido de gente que se apertava e se empurrava na pista, algo bem acima do normal de qualquer outro show. Na seqüência veio mais uma do Octavarium, Panic Attack. Ao final dessa música os ânimos já estavam um pouco mais controlados, e já era possível assistir ao show. E, para minha surpresa e talvez para a de muitos, começaram a tocar A Fortune in Lies, música de seu primeiro álbum A Dream and a Day Unit. Confesso que fiquei emocionado ao ouvir essa música, tocada com um grande feeling. Na seqüência, Under a Glass Moon, faixa do álbum Images and Words. E aí sim, ao término dessa, enfim a banda faz uma pausa para se comunicar com o público. LaBrie começa agradecendo ao grande público presente naquela noite, comenta que já faz muito tempo desde a última vez no Brasil, e por esse motivo haviam preparado algo especial. Disse que tinham várias músicas para tocar, e que fariam uma passagem por todos os álbuns da banda. Imediatamente começaram a executar Caught in a Web, do Awake. Na seqüência, Peruvian Skyies, do ábum Falling into Infinity. No meio da música, duas pequenas palhinhas, Wish you Where Here, do Pink Floyd e Wherever a may Roam, do Metallica, o que contribuiu para esquentar mais ainda a galera, onde todos “cantaram” a melodia da música em coro. A essa altura, com os ânimos já bem controlados, o que definitivamente não significa que alguém estivesse frio, e cada um já com seu respectivo espaço “conquistado”, pude perceber que o público dividia seu assistir ao show entre o palco e os telões laterais da casa. As imagens ficavam quase sempre centradas em Portnoy, com raras aparições dos outros membros. Mas sou obrigado a dizer que, com aquela multidão absurda lá, os telões muitas vezes eram a melhor saída para se ver algo mais detalhado. Na seqüência, praticamente sem pausas, Strange Deja-vu, do Scenes from a Memory e Solitary Shell, Do Sex Degree of Inner Turbulence. Confesso que essa me trouxe lágrimas aos olhos, pois se trata de uma de minhas preferidas. Após essa música, LaBrie anuncia o término da primeira parte do show, e uma pequena pausa de vinte minutos. Nesse momento já havíamos tido sessenta e cinco minutos de música.
Muitos deixaram seus lugares na pista, e dentre esses eu, que precisava muito me re-hidratar, pois depois de todo aquele aperto inicial me sentia uns vinte quilos mais leve! Feito isso, respirado um pouco sem aperto, volto para a pista e eis a minha surpresa, e acredito a de muitos: haviam tirado os telões! Sem nenhum aviso prévio, e até onde me consta nenhum motivo específico para isso, os telões haviam simplesmente sido retirados de lá. Cheguei a imaginar que teriam sido deslocados para o palco, para serem usados em algo especial durante a segunda parte, mas não aconteceu. Prejudicaram o show com isso, mas enfim...
A segunda parte começou com As I am e Endless Sacrifice, do álbum Train of Thought. Na seqüência, executaram I Walk Beside You, uma música realmente linda, com seu refrão cantado em uníssono por todos os presentes, e na seqüência Sacrificied Sons, ambas do álbum Octavarium. Nesse momento, a banda agradece a todos e se despede, anunciando o fim do show. Claro que todos sabiam que não era o fim, tanto que em poucos segundos a banda já havia retornado para o palco. Nesse momento, Jordan Rudess aparece sozinho no palco em meio a dois teclados, e inicia um solo, dando início a execução de Octavarium. Era inacreditável para mim, que não esperava a execução de uma música de vinte e quatro minutos naquele show, ainda mais no bis. Após alguns minutos, LaBrie surge no palco, e começa a tocar um dos teclados, fazendo base para que Jordan sole no outro. E a música é executada em sua íntegra, ficando até um pouco maior, com vinte e seis minutos de duração. Particularmente, fiquei extasiado com aquilo. Imediatamente após o seu término e a conseqüente ovação geral do público, iniciam Learning to Live, do Images and Words. Mais um presente para os fãs, e a música que originalmente possui doze minutos acaba ficando com dezesseis, graças a Petrucci que estendeu seu solo. E eis que havíamos sido brindados com quarenta e dois minutos praticamente initerrúptos de música. Coisa que apenas Dream Theater é capaz de fazer ao vivo. E agora sim, o show chegava ao seu fim, com a típica seqüência tão conhecida pelos fãs: Portnoy vestindo seu hobby de boxeador e toda a banda se unindo a frente do palco para saldar o público. Nesse momento, todos entoavam um coro pedindo por Metropolis, “hino” do DT entre os fãs. Mas o pedido não foi atendido (a música foi executada no show do domingo). LaBrie agradeceu a todos e a banda se retirou, permanecendo apenas Portnoy no palco, também agradecendo e dizendo esperar ver todos novamente no domingo, e anunciando que haviam preparado algo especial para então.
Foi um grande show, mas faltou algo que é a cara do DT ao vivo: solos. Não houve nenhum, nem mesmo o de bateria que é algo latente em seus shows desde a turnê do Awake. A banda se portou de forma relativamente fria durante todo o tempo no palco, mas nada muito diferente de seus outros dois shows no país, em 1997 e 1998. O único que realmente agita, o mínimo que seja, durante todo o tempo do show é Mike Portnoy, e mesmo assim não fez muita coisa. Isso tudo, juntando-se o fato da retirada do telão, contribuiu para um gosto meio amargo na boca de quem já havia visto as outras passagens da banda por aqui. Mas, para quem estava vendo a banda pela primeira vez, com certeza nem se apegou a isso, pois fizeram um show extremamente competente, com a virtuosidade que lhe é peculiar, e presenteando os fãs antigos com músicas a muito não executadas. Um show para ficar guardado na memória de todas as gerações de fãs.